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A virtude do egoísmo! Existe tipo certo de egoísmo?

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Por que agir para melhorar a própria vida – e a vida das pessoas que o cercam – é importante para desenvolver sociedades mais prósperas e livres

Há um título muito forte de um livro da escritora Ayn Rand que nos faz refletir sobre a nossa era e a sociedade em que vivemos. Trata-se de “A Virtude do Egoísmo”. Nesta, e em outras obras, a autora explicita um conceito moral e filosófico que criou, batizado de “Objetivismo”. Trago um trecho de um livro dela chamado A Nascente: Nada é dado ao homem na Terra. Tudo o que ele necessita tem que ser produzido. E é aqui que ele encara sua alternativa básica: ele pode sobreviver apenas de dois modos – pelo trabalho independente de sua própria mente ou como um parasita, alimentado pela mente dos outros. 

Só que, ao contrário da teoria de Rand, vivemos em uma sociedade em que o altruísmo é valorizado – e não o egoísmo. Após muito refletir sobre esse tema, a minha conclusão é que a americana de origem russa está correta: seria realmente muito egoísmo querer atribuir aos outros a obrigação de trabalhar por nós.

No Brasil, temos muitos direitos garantidos pela nossa Constituição e que existem apenas na nossa Carta Magna. De toda maneira, muitos acreditam que não precisam fazer nada para ter acesso a tudo isso e que outras pessoas devem trabalhar a mais ou pagar impostos a mais para compensar suas próprias necessidades. E isso é o ápice do egoísmo.

Quer dizer, muitos não pensam que, para ter educação gratuita, dependerão do trabalho de dezenas de pessoas. Desde os operários que construirão a escola ou universidade, passando pelas indústrias que fabricarão os materiais necessários para as aulas, chegando aos professores que, diariamente, sairão de suas casas para ensinar gratuitamente aquilo que sabem. Indo a um ponto extremo, há os sonhadores que imaginam que têm o direito (ou que deveriam ter) de viver uma vida sem nenhum trabalho. Para isso acontecer, deveria ter uma casa com um terreno no qual possam plantar alimentos, placas de energia solar para captação energia e um tear para fabricar suas próprias roupas. O que eles não se lembram – ou não querem se lembrar – é que alguém terá que fabricar todos esses aparatos de graça, ou eles próprios teriam que saber como fazê-los e efetivamente construir tudo isso.

Isso são hipóteses extremas. Mas me ajudaram a pensar que não existe outra opção além de entender que a sociedade existe através de trocas voluntárias, e que, quanto mais trocas ocorrerem, mais próspera será a sociedade. E quando digo voluntária, quero dizer que as pessoas (e empresas) devem ter liberdade para escolher que negócios e transações querem fazer.

A relação entre liberdade e desenvolvimento social fica evidente quando percebemos, por exemplo, que há uma correlação enorme entre os lugares que fazem parte do ranking de qualidade de vida produzido anualmente pela revista inglesa The Economist e o Índice de Liberdade Econômica divulgado pela Heritage Foundation – os melhores países para viver são, também, os que possuem mais liberdade, como Suíça, Austrália, Cingapura e Canadá. Infelizmente, o Brasil ocupa a 118ª posição na lista da Heritage Foundation. Mas vivemos um momento que pode mudar esse cenário. Afinal, nos últimos anos houve um aumento da consciência política e uma popularização da tecnologia – em todas as classes sociais.

Esse movimento traz boas consequências para o país, como o entendimento de que empreender é algo importante e uma boa saída para os profissionais. Não é à toa que tantas startups estão surgindo no país. Depois que o governo tomou medidas econômicas equivocadas que geraram distorções no mercados e milhares de desempregados, nós, como nossos antepassados, estamos saindo das cavernas para empreender.

Os partidos que se dizem de esquerda e que – supostamente – querem o bem do trabalhador, começam a perder espaço para quem traz novas ideias. Estamos inseridos em um contexto global, em que a competição não é entre empregados e empresários. A briga de classes atual se dá entre pagadores e recebedores de impostos. Começa a haver um entendimento geral de que a prosperidade existe onde a produção é facilitada.  Desse modo, cada um de nós terá as nossas necessidades garantidas, pois ficaremos com a maior parte daquilo que produzirmos.

E o que isso tem a ver com egoísmo e altruísmo? Tudo. Explico: quando um indivíduo tem as suas necessidades atingidas, ele começa a se preocupar genuinamente com os outros – quer que as outras pessoas tenham as oportunidades que ele teve. E exemplos desse comportamento pode ser encontrado aqui no Brasil. Há instituições como Yunus Foundation, Bem-te-vi Investimento Social e MOV Investimentos que são comandadas por executivos bem-sucedidos que têm um objetivo simples: captar dinheiro junto a investidores para criar novas empresas, gerando mais oportunidades de trabalho e aumentando o numero de trocas voluntarias na sociedade.  Importante colocar que este dinheiro investido, é devolvido somente após 8 anos, sem nenhuma correção monetária ou juros.

Isso é completamente contra intuitivo, e está acontecendo cada vez mais. O “homo economicus” clássico tenta sempre maximizar seu retorno financeiro. Mas não é isso que acontece no dia a dia do “homo real”, que se preocupa e toma atitude para transformar seu entorno em um lugar melhor para todos. O fato é que vivemos em uma sociedade de cooperação. Quanto mais as pessoas se especializarem, produzirem e mais trocas voluntárias fizerem, maior será o padrão de vida de todos.

Ou seja, quanto mais liberdade cada um de nós tiver para fazer o que deve ser feito, melhor para o país e para a população. Daí a importância de reduzir o tamanho da atuação do Estado em nossas vidas. Afinal, você gostaria de ter produtos que usa no dia a dia, como carro, computador, celular e máquina de lavar produzidos pelo Estado? Acredita que seriam de tão boa qualidade quanto os produzidos pelas empresas privadas? Imagine como seria um Facebook estatal? Provavelmente, teríamos que ir até um Poupatempo cheios de documentos para criar uma conta, perderíamos as contas de quantas horas a rede social ficaria fora do ar, teríamos um número restrito de postagens por dia e, certamente, haveria um mercado negro de posts. Hoje, como nação, estamos vivendo no Facebook estatal: sustentamos um Estado que consome 40% de tudo que é produzido no país. Na prática, isso significa que, na média, trabalhamos mais horas do que os países líderes do ranking da Heritage Foundation e temos um padrão de vida infinitamente inferior.

Os melhores países são aqueles que dão liberdade aos seus cidadãos. E ter liberdade é ter um certo tipo de egoísmo. Um egoísmo em que cada um quer, sim, melhorar sua própria vida. Mas, ao mesmo tempo automaticamente melhora o seu entorno. A única forma de alguém se interessar pelo produto ou serviço que você oferece, é se você resolver o problema de alguém. Então mesmo que você não esteja preocupado com o próximo, só vai ter sucesso se atender a demanda de outra pessoa. Seja esse tipo de egoísta. Não seja o egoísta que acredita que os outros lhe devem algo. Com esse tipo certo de egoísmo sua vida será mais plena – e a da comunidade em que você vive, também.

Joseph Teperman

Artigo publicado no livro “Um pequeno passado para a Liberdade, 2016”

Joseph Teperman
Autor: Joseph Teperman

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