É impossível falar sobre futuro sem falar sobre quem vai nos liderar até ele. Quanto mais estudo liderança, porém, mais percebo que essa é uma ciência viva, sobre a qual nunca poderemos
deixar de repensar conceitos – e desfazer nosso senso comum.
Lidar com a mudança, definir o rumo, alinhar, motivar e inspirar em direção a um objetivo. É assim que John Kotter define liderança. Ele a contrapõe com o que é gerenciar: planejar, organizar, contratar, controlar e resolver problemas. Segundo ele, é muito difícil cumprir esses dois papéis ao mesmo tempo.
No livro Leadership on the Line, aprendemos que liderar é compartilhar com o mundo o seu melhor. Isso é o que fizeram os palestrantes do INNITI Day, ao subir no palco e apresentar como atuam transformando seus mercados, e é o que faz o eletricista Zé Carlos quando atende seus clientes. É ele quem eu chamo sempre que preciso de algum reparo no escritório e, por ter uma energia tão incrível, fico feliz toda vez que preciso de um serviço dele.
Segundo Daniel Goleman, são seis os estilos de liderança: afiliativa, autoritária coercitiva, autoritativa visionária, coaching, democrática e marcadora de ritmo. Entre eles, Goleman explica que o estilo de liderança autoritativo visionário, de modo geral, é o melhor para as organizações. À primeira vista, isso nos causa estranheza, pois tendemos a relacionar a palavra autoritativa a outro termo, o autoritarismo.
Autoridade é a autorização para usar ferramentas, recursos e poder para atingir os resultados. Um líder
autoritário e um líder autoritativo, na verdade, utilizam de forma distinta a sua autoridade. Enquanto o autoritário utiliza-se do poder para impor respeito e obediência, o autoritativo expressa sua autoridade de maneira participativa e incentivando o diálogo, como pais que conversam com seus filhos.
O que podemos deduzir de todas essas definições é que liderar é um verbo, não um cargo. Assim, quando falamos que há um gap de liderança, estamos dizendo que pessoas que ocupam certos cargos de autoridade não estão se comportando como líderes, não estão liderando.
Ocupar a cadeira do líder gera a espinhosa expectativa de que você terá as respostas para todos os problemas. Isto não é verdade, pois são dois os tipos de desafios:
1 – O desafio técnico é aquele para o qual já existe uma resposta, pois já aconteceu e foi resolvido no passado.
2 – O desafio adaptativo é um desafio novo, que exige tentativa e erro para chegar à solução e ao engajamento de todos, não apenas do chefe.
Por esse motivo, a liderança relevante para o futuro precisa entender isso e explicar para seus liderados, deixando claro, desde o início, que não terá todas as respostas. O papel do líder é lidar com uma ideia intangível sobre o futuro, fazer com que as pessoas passem por desafios dolorosos e indesejados e conduzir os liderados por uma jornada em que no início só se vê perda.
Quando estudei isso, não pude deixar de pensar na Reforma da Previdência. Algo que precisa acontecer
no nosso país, mas envolve dar más notícias para a população. E os políticos devem fazer isto: mostrar que vamos passar por um ajuste doloroso, e com perdas, para ter uma perspectiva de futuro melhor do que temos hoje.
Para os líderes, porém, é justamente quando começam as perdas que os riscos se tornam maiores. Entre eles, podem estar: ser ridicularizado, ter a reputação atacada, virar o bode expiatório ou ter o estilo
criticado. E tem um risco ainda maior, que conheci lendo Leadership on the Line. No livro, há o exemplo
de um reverendo que sempre advertia os seminaristas dizendo “não se confunda com o Salvador, ou pode acabar como ele”.
Quando recorri ao dicionário para aprofundar o que é liderança, encontrei que “liderar” é um termo
com origem na língua inglesa, “to lead”. Por sua vez, esta palavra tem uma raiz antiga indo-europeia
que significa “to go forth and die”. “Ir em frente e morrer” deu origem ao termo liderança devido aos
combatentes que assumiam a frente das batalhas medievais, literalmente arriscando a vida por estar
nesse papel.
Não é por acaso que temos tantos líderes que sofreram ataques ou foram assassinados em nossa história. Nos Estados Unidos, quatro presidentes foram mortos durante o mandato – o primeiro deles foi Abraham Lincoln e o último, John F. Kennedy. Outro líder assassinado durante o exercício de poder
foi Yitzhak Rabin, que assumiu outro risco importante: confundir-se com seu papel. Por seu histórico militar, quando se tornou chefe de Estado, Rabin ignorou as medidas de segurança necessárias para seu cargo – como colocar um colete à prova de balas, que teria evitado sua morte.
Sobreviver a todos esses riscos, entretanto, não é suficiente. Ainda assim, existe a chance de chegar ao
fim e, ao alcançar o que tanto queria (dinheiro, cargo, sucesso), encontrar um grande vazio. Por isso, não poderia deixar de recomendar alguns remédios para que isso não aconteça.
O primeiro é autoconhecimento: terapia, coaching ou o que fizer sentido para que consiga viver bem consigomesmo. O segundo é Memento Mori – lembrar-se de que você é mortal, como ensinaram os antigos romanos, que advertiam seus generais com esta frase após as batalhas vitoriosas. O terceiro, por sua vez, é manter o senso de humor. Não podemos nos levar tão a sério.
Por último, existe um grande remédio que é participar da vida de diversas formas, entregando o seu melhor. Como o Bill Gates, que descobriu cedo que não valia a pena ter mais bilhões em sua conta bancária e criou a Bill & Melinda Gates Foundation para fazer bem para o mundo. Não tenho dúvidas de que ele se sente pleno e realizado – muito mais do que se acumulasse mais bilhões.
O Warren Buffett fez essa descoberta um pouco mais velho, mas ainda antes de precisar de lidar com algum vazio. Buffett se juntou ao Bill Gates para fundar o The Giving Pledge, que, no Brasil, tem um adepto que admiro muito, Ellie Horn, fundador da Cyrela. Antes de essa iniciativa existir, ele já tinha decidido que doaria 60% de sua fortuna. Para ele, quem tem a capacidade de fazer o bem e não o faz é um covarde.
Também tenho tentado contribuir para a empreitada humana com o meu melhor. Sou membro do conselho do IFL, da FAAP e da WNutritional, realizo eventos como o INNITI Day, dou palestras e sou sócio-fundador da INNITI – onde tudo isso se encontra, além de me incentivar a estudar tanto sobre liderança.
Ao entregar o meu melhor e ver tantos líderes, independentemente de cargo, fazerem o mesmo,
acredito, mais do que nunca, que o futuro da liderança é analógico. A tecnologia é capaz de fazer muita coisa, mas não é capaz de substituir um líder quando o assunto é proximidade, inspiração e contato humano. Isso, sem dúvidas, é entregar o melhor para a sociedade e tornar- -se imprescindível para o amanhã.
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