Muitas vezes ao tomar a decisão de mudar de área, cargo ou empresa, os profissionais levam em consideração os ganhos e satisfação imediatos, ou até mesmo o convite de um amigo ou ex-chefe. Embora seja comum falar na importância de se fazer um planejamento, poucas são as pessoas que aplicam a lógica do mercado financeiro à gestão de suas carreiras. A maioria das pessoas não leva em consideração o impacto sobre a capacidade de “geração de caixa de longo prazo” e na sua “liquidez”.
Contudo, o maior ativo financeiro de um profissional é sua carreira, e por isso as decisões com ela relacionadas deveriam ser tomadas com a mesma cautela que se tem na construção de um patrimônio. Para isso é importante ter em mente duas questões, a primeira é a aplicação dos métodos adotados por investidores do mercado financeiro em cada decisão que pode mudar sua trajetória . A segunda é o autoconhecimento, que permite colocar as oportunidades em perspectiva segundo os seus valores e propósito.
Primeiramente, é importante se perguntar qual o objetivo e qual o prazo de investimento, assim como você faria numa aplicação financeira, pensando em rentabilidade (ganho líquido), segurança (disposição ao risco) e liquidez (capacidade de transformar um ativo em dinheiro). E para cada objetivo definir um período, sabendo que não se pode ter tudo no curto prazo.
É muito comum que as pessoas gastem muito tempo na avaliação da sua carteira e riscos de investimento, mas na hora de avaliar o maior ativo, que é o seu trabalho e o valor que pode gerar por meio dele ao longo da vida, não se dispensa o mesmo cuidado na análise. Vamos considerar o exemplo de um executivo que tenha 20 anos de carreira pela frente, e já tenha economizado e investido R$ 1 milhão. Ele normalmente gasta várias horas semanais lendo jornais e relatórios sobre a performance dos fundos em que tem dinheiro aplicado e sobre as empresas que estão em sua carteira de ações. Estes 20 anos de carreira certamente vão lhe gerar muito mais que isto, em um pacote de R$ 300.000 anuais estamos falando de R$ 6 milhões!
Portanto ao tomar uma decisão de carreira é sempre bom saber se a remuneração mais vantajosa exige ou não maior exposição aos riscos e quais são eles. Também é essencial aplicar o conceito de liquidez à vida profissional e verificar se a mudança não leva o profissional a um cenário que reduza sua capacidade de transitar por cargos e empresas diferentes no futuro. Assim como se analisa a disposição ao risco antes de investir o dinheiro, é importante se perguntar na carreira qual a real disposição de correr o risco de perder, e como estar preparado para isso, ao dar um passo mais ousado. Ou ao contrário, se o risco é ficar parado em um setor que tem um futuro nada promissor e a decisão correta é embarcar em um novo desafio, assim como você realizaria o lucro de uma ação que subiu muito e compraria outro com muito mais potencial de valorização.
Uma atitude inteligente é manter-se informado sobre o desenvolvimento das empresas em seus setores e observar seus movimentos, desse modo é possível mapear as oportunidades que são mais favoráveis no longo prazo.
Essa é uma rotina importante que faz parte da vida dos analistas financeiros e deveria ser adotada antes de tomar uma decisão de mudança profissional: é lançar um olhar para a situação da empresa no mercado, qual sua posição frente aos competidores locais e internacionais, como os recursos são empregados, qual a visão dos líderes, se é um negócio sustentável no longo prazo. As companhias abertas mantém esse tipo de informação nas páginas de relações com investidores ou no site da CVM, o que facilita a análise. O que se vê, no entanto, é muita gente zelando por seus investimentos em conta corrente, deixando de observar o elemento que mais tende a trazer recursos a um profissional: sua carreira.
*Artigo de Joseph Teperman publicado em 27/3/2016 no jornal Estado de S.Paulo